Presidentes de câmaras do principal partido da oposição na Turquia reúnem-se após nova vaga de repressão

Os presidentes de câmara do principal partido da oposição na Turquia – o Partido Republicano do Povo (CHP), de orientação laica e de centro esquerda – vão reunir-se para analisar as mais recentes investidas do sistema judicial turco contra a oposição. A generalidade dos observadores independentes interpreta estas ações como sinais de uma erosão acelerada do Estado de direito e de uma crescente ingerência política no funcionamento da justiça, visando silenciar críticos do governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan.

José Pedro Tavares - correspondente da Antena 1 na Turquia /

Murad Sezer - Reuters

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No passado sábado, três presidentes de câmara eleitos pelo CHP em grandes cidades turcas – Antália e Adana, na costa mediterrânica, e Adıyaman, no leste do país – foram detidos sob alegações de envolvimento em esquemas de corrupção.O carismático presidente da Câmara de Istambul, Ekrem İmamoğlu, o candidato presidencial do CHP para as próximas eleições, encontra-se detido desde março e está atualmente a ser julgado.

O próprio partido está sob investigação judicial, alegadamente devido a irregularidades nas últimas eleições internas.

Nos últimos dias, vários jornalistas críticos de Erdoğan também foram detidos, entre os quais Fatih Altaylı, cujos comentários semanais no YouTube eram seguidos por mais de um milhão de pessoas, e Timur Soykan, por ter criticado as detenções de autarcas da oposição. Também o principal canal de televisão alinhado com a oposição, Halk TV, foi forçado a suspender as suas emissões durante dez dias, por decisão do regulador público.

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, esta pressão crescente sobre a oposição e sobre a imprensa independente constitui uma tentativa do Governo de “impor uma única narrativa sobre o país – a narrativa do partido de Erdoğan”.Nas últimas eleições locais, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), liderado por Erdoğan, sofreu a sua primeira derrota significativa em mais de 22 anos de domínio quase absoluto, perdendo cidades-chave para o CHP.

Apesar de o Governo insistir que o sistema judicial é independente, a maioria dos analistas e a própria União Europeia têm vindo a alertar para uma erosão das instituições democráticas e do Estado de direito.

Só nos últimos meses, pelo menos 11 presidentes de câmara da oposição foram detidos ou afastados dos seus cargos, sob acusações de corrupção ou ligações ao terrorismo.

Apesar da repressão, o CHP continua à frente do partido de Erdoğan nas mais recentes sondagens. As próximas eleições presidenciais estão previstas para 2028. Erdoğan, constitucionalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato consecutivo, já sugeriu que poderá tentar alterar a Constituição para se recandidatar.
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